quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Clichês: Yaoi


People! I return!
Olá a todos e sejam bem-vindos ao mais novo post aqui do Dicas.

Hoje vim falar de histórias gays. Yaois para falar a verdade.

Vou começar falando que nem sempre um clichês é algo ruim, repreensível e que você nunca deve usar um deles na sua história. Os clichês podem ser úteis em infinitas situações e até se encaixarem perfeitamente no texto, principalmente se o autor souber usar.
Como já mencionei acima, nesse post será focado os clichês do gênero yaoi.

Yaoi, para quem não sabe, é uma palavra em japonês que se refere a histórias, animes, fanarts, etc., com conteúdo homossexual (homem/homem). É equivalente a boy's love (BL), termo que também classifica histórias do gênero, e slash, termo mais usado em fanfics estrangeiras. Um gênero muito popular entre o mundo das fanfictions e mesmo entre escritores publicados, talvez também por conta disso, é alvo da criação de toda uma variedade de clichês.


Seme homem, uke mulher: para quem não sabe, seme é o termo referente em japonês ao ativo na relação. Uke, por sua vez, é o passivo.

Embora obviamente sejam homens na história, muitos escritores têm uma tendência a fazer essa associação. O seme é o machão, aquele que nunca chora, que é grosso, que não demonstra seus sentimentos. E, é claro, o ativo durante o ato sexual. Já o uke é emotivo, doce, muitas vezes tímido; é aquele que cora, que chora, que suspira apaixonadamente.

Acredito que isso aconteça, entre outras coisas, pelo motivo original da difusão do gênero no Japão. As mulheres de lá, reprimidas, vivendo numa sociedade bastante machista, acabaram vendo no yaoi uma forma de narrar histórias de amor, românticas de um modo geral, mas nas quais ambas as partes se tratassem de igual para igual. Isso explica por que os ukes nos mangás quase sempre possuem traços femininos físicos e de personalidade. No entanto, apesar de ser menor, mais delicado e sensível que o seme, na relação está numa posição de poder equivalente à dele, não abaixo.

Contudo, apesar da justificativa louvável dessa representação, ela raramente reflete uma situação real na história, seja em mangás ou fanfics. Vira uma relação quase heterossexual, na qual o uke é uma mulher com um pênis.


"Ele beijou seu peito branco e lisinho...": homens totalmente sem pelos. Quem nunca viu um, não é? Acho que essa é mais por conta de uma idealização que as pessoas têm especialmente com o uke, já que "ele é a mulher". Peito liso, barriga lisa, vi até histórias em que eles não tem pelos nas pernas. Gente, que isso? Essa é a questão de bom senso. Homens têm muito pelo, inclusive em lugares que prefiro não comentar.
"Mas, Ana, o meu PP se depila!". Aí tudo bem, aceito, mas duvido muito que todos os caras de todas as histórias yaoi depilem. Francamente.


Fulano é seme, Ciclano é uke: e isso nunca muda. A maioria das histórias tem isso como verdade, até por causa do primeiro item, e aí as atitudes, falas, tudo do personagem fica condicionado a isso. O seme nunca pode chorar, porque isso não é do feitio dele, tem sempre que se mostrar forte, duro, coisas que o uke não pode ser.
O nome do casal muitas vezes é definido com base nisso, vindo o nome do seme primeiro e, mesmo durante o lemon, essa "hierarquia" se mantém inalterada. Tem gente que até repudia autor que troca as posições do casal, porque isso é errado, porque é estranho, porque é inimaginável ver Ciclano como seme.
Gente, sério. Nem vou comentar sobre um relacionamento gay real, que não funciona bem assim, porque o foco é mais nas histórias. Mas a verdade é que rola até um preconceito de leve nesse clichê. O cara que é a "mulher" está privado, a partir daí, de ser o "homem" e fim de papo.


"O menor o olhou quando o maior fez que sim": esse acontece em fanfics em geral, mas é mais frequente em histórias yaoi (acredito também que a ideia tenha sido disseminada a partir delas). Ninguém precisa fazer toda e cada frase citando os nomes das personagens quando for se referir a elas mas muitos autores criam tantos nomes alternativos que acabam substituindo os nomes reais com eles e a história fica confusa.

"O menor não gostava de ver o maior daquele jeito."

"O loiro avistou o moreno ao longe e acenou."

"O de olho azul piscou e o de tranças riu."

Não dá para imaginar decentemente a história assim, sério. Ainda mais se for num lemon. Esses adjetivos complicam, não ficam visualmente bonitos e não são muito explicativos. E se a pessoa não conhecer bem o fandom para saber que personagem é menos que o outro? E fica sem entender nada da história.
E nem vou comentar o fato de "o menor" sempre ser o uke e "o maior" o seme, porque ai voltamos outra vez ao primeiro item.


Todo mundo é gay: em boa parte dos yaoi, por algum motivo, todo mundo é gay. O uke é gay, p seme é gay (óbvio), o amigo do uke é gay, o primo do seme é gay, o cara da padaria onde eles foram comprar pão é gay. Não vejo sentido nenhum nessa. Sua fanfic pode ser num internato, num hotel, num hospital, mas não existe nenhuma pessoa heterossexual, bissexual que seja? Bom senso, bom senso.
E isso já é tão intenso entre as fanfics yaoi que, às vezes, quando aparece um personagem masculino novo na história, os leitores já assumem que ele é gay. Ou tem que ser. Precisa ser! E se o seme ou uke tem um irmã? Incesto já!
Cadê as mulheres normais? (fora o fato de praticamente não existirem, porque, além de todo mundo ser gay mulheres em fanfics yaois são banidas da face da Terra) As personagens femininas da história se encaixam em três categorias: a fujoshi, a lésbica e a vadia-que-vai-atrapalhar-o-yaoi-e-todo-mundo-vai-odiar. Acho bem irreal, já partindo da primeira. Nada contra fujoshis (até por que eu sou uma e não posso e nem quero fazer nada para mudar isso), mas tem sempre aquela personagem que vê os amiguinhos se pegando no yaoi e pira. Sai gritando, falando coisas inapropriadas, fazendo apologia em fanfics.
Ou então a menina lésbica. Porque é uma consequência, o cara é gay, a amiga dele tem que ser lésbica. Só assim para a personagem entender as coisas, só assim para ela aceitar.
E, por último, tem a personagem feminina que só está lá para causar na história e fazer todos os leitores a odiarem até o fim dos tempos porque ela "atrapalha o yaoi". Às vezes ela nem atrapalha, mas só o fato de ter uma garota na história e não um cara (gay) é motivo suficiente para ela ter o ódio eterno e declarado de todo mundo.
E 95% dos leitores/autores de yaoi é mulher! Lógica, onde está você?


Que falta de preconceito: ainda no meio da realidade alternativa em que se passa a maioria das fanfics yaoi, é muito comum se deparar com esse item. O casal fica junto, se pega na rua, entre amigos, num jantar de família e todos estão okay com isso. Claro que seria lindo se as coisas fossem assim de verdade, mas é uma ideia tão utópica que chega a ser desconcertante.
Nem todo mundo aceita homossexualidade. É um tema polêmico, como religião, política, e deve ser tratado como tal. Sua história pode não se focar nisso, não chegar nem perto, mas daí se inserir num universo cor-de-rosa em que ninguém tem preconceitos. É quase como quinto item, no qual todo mundo é gay.


E quando tem incesto? Um mundo que aprove homossexualidade cem por cento é aceitável perto de um que aprova inteiramente incesto. Quer dizer, chega a ser crime em alguns países. Por que fazer isso com a sua história? O conflito pode deixá-la mais interessante, mais densa, mais atraente de um modo geral. E uma dose de realidade não faz mal a texto algum.


Existem outros clichês (infinitos deles), mas esses foram o que eu considerei piores. Repito que não tem problema usá-los em seus textos, quem lê mangás publicados mesmo ou assiste a animes com certeza já presenciou os sete ao menos uma vez. A questão é, como quase tudo na escrita, tem que saber dosar esse uso.

Isso foi tudo por esse post.
Até o próximo.
Beijos da Ana.